A Torre

4/05/2009
Sim… Decidimos subir hoje á torre.

Está escuro, somos muitos e ilegais percorremos estes corredores abandonados.

Sem saber como nem porque sinto a tua mão agarrar a minha. Nunca dantes o havias feito.

Olho para ti e leio-te na expressão um medo infantil e de certa forma teatral. Tentas manter a concentração e a seriedade. Estamos afinal de contas no meio de uma grande aventura.

Penso que o fazes para que eu pense que tens medo. Não acredito que tenhas medo mas finjo que sim e seguro-te firme a mão.

Desejo arduamente que nunca a desamarres de mim para que te mantenhas sempre junto a o meu corpo… apenas e mesmo que só através da tua mão.

Tenho vergonha.

Sim,

Tenho vergonha porque os outros viram, todos os outros viram e todos os outros sabem que nada há entre nós.

Tenho vergonha porque a minha mão está fria, num sinal honesto da minha inferioridade.

Tenho vergonha porque a minha mão ficou a suar junto da tua e está a contaminar-te. A minha mão parece pouco higiénica… a suar para a tua pele e para a tua boa vontade.

Continuamos a percorrer estes corredores escuros. Houve quem trouxesse lanternas… nós ficámos para trás, seguindo os que o fizeram.

Puxo-te para um outro quarto, fora dos corredores, fora do trilho. Continua escuro mas finalmente estamos sós e o meu coração já não bate tão forte como quando há pouco me pediste emprestada a mão.

Agora estamos sós.

Seguro-te a mão esquerda com a minha mão direita.
Fito-a com os olhos baixos enquanto a percorro nas costas com os meus dedos e entreteço mentalmente uma forma de exprimir em três palavras todo o meu amor por ti.

Pela janela entram uns poucos fotões perdidos por difracção na escuridão da noite, mas chegam-me… bastam-me estes, o toque quente da tua mão e o teu perfume...

Apetece-me mergulhar no teu peito.

Um dos meus mais secretos desejos sempre foi mergulhar no teu enorme peito.

Mergulho no teu peito enquanto ainda se ouvem os passos dos nossos companheiros exploradores no soalho de madeira das restantes divisões.

Estamos sós e a minha face está entregue ao teu peito, á tua t-shirt de algodão verde, parcialmente coberta pelo teu casaco verde de um outro tecido qualquer. O teu perfume é um Milagre. O teu perfume és tu e o teu perfume. O teu perfume é único.

Ainda não consegui expulsar uma palavra, e ainda não ouvi uma sair da tua boca.

Continuo a ouvir o teu coração e a desejar forte que me desejes tanto quanto te desejo a ti…não de forma carnal como nos filmes, na bruta banalização da palavra desejo. Contínuo a implorar que o destino já tenha por mera sorte escrito o teu nome junto do meu.
Ainda não larguei a tua mão…

Inspirei-me no teu perfume e no cheiro do teu corpo junto do cheiro do teu perfume. Confesso que nunca senti nada como isto.

Preciso de te dizer algo mas nada mais me ocorre : Amo-te…

Não quero gastar a palavra. TU Não sabes que é a milionésima vez que te digo isto. Tu não sabes
que não é uma leviandade e que não somos “novos” para mim… Jamais te diria isto no primeiro dia.

Voltei a fitar a tua mão esquerda, segura pela minha mão direita. Olho agora, e mais uma vez para as nossas mãos.

Sinto-te silencioso, Mas ainda não te olhei a face desde que nos trouxe para aqui.

Será uma surpresa. Sempre tive medo de surpresas…Desejo olhar para ela e encontrar-te como te imagino.

Elevo o olhar…

Sorrio. Respondes com um sorriso que não consigo interpretar.

Aproximo-me e consigo chegar-te ao ouvido.
-- Sabes que te amo?… sabes que te adoro desde o primeiro dia. Quero abraçar-te. Abraça-me.
Amo-te.

Sabes?...
Ainda não larguei a tua mão e não sei o que se passou a seguir.
Nunca te puxei para este quarto.
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