os pombos

10/31/2005
O terreno desmorona-se ante meus olhos
Triste
Só eu o vejo desmoronar-se
Só eu, só o eu que existe
Os outros são pássaros
São pombos de olhos laranja pestanejando no jardim
Afastando-se quando passo
Outros voando sobre mim
Mas o mundo desmorona-se
Pedra a pedra
Ruge bem alto mas ninguém ouve.
Será o mundo?
A mente?
Será o mundo da mente?
Não creio,
Nem tão pouco podia crer que me anularia
É externo,
É o exterior que se corrompe e cai como fruta madura
Como fruta que não comi e que adoça agora a terra dos pombos
Caída
No meio segundo que me separa a cabeça dos pés.
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amor egoismo

10/06/2005
Falei com o amor
Disse-me que sexo era a sobremesa
Mas que não passava sem o prato principal.
Disse-me que não passava sem ti, coisa abstracta e anónima
Numa voz que soava compassada em cima das notas soltas do piano
Disse-me que não passava sem a personagem principal
Sem a deixa central
Que é a veneração
A devoção do teu ego ao meu
A adoração cega e mortal
A dependência,
A inquietação quando eu passo e o temor quando eu mando.
Disse-me também que não passava sem a anulação ante sua alteza
E sem o eterno centro da vida que era o meu corpo a mandar no mundo
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Comemoração da morte do fantasma

10/06/2005
Sim
Morreu finalmente
Acho eu…
Nascem outros, pequeninos
Fragmentados
Bolhas que tocam sem magoar
E rebentam hoje, ou noutro dia qualquer, sem que perca tempo pensando nisso
Regressam, dão-me sorrisos, emoção e pena
Um, dois, três talvez…
Nunca como uma mãe
Mas como bichinhos respeitáveis
Ver-se-á.
Quero ouvir as palavras ditas contra esta parede rude e impenetrável
Quero ouvi-las
Ninguém as dirá
Pessoas não falam para as paredes.
Anseio pela descoberta do erro, ou talvez,
Talvez nem tão pouco haja erro…
Mas sonhos incoerentes, inintretecíveis
Pensados em lados opostos do cérebro
Um que me ped’água
O outro que quer vinho
E eu prometo que não morro sem beber do cálice.
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Retrato do Eu

10/06/2005
hey, já está a filmar?
Ok, não vou mexer o lábio de cima
Vá, pega nas coisas delicadamente
Isso, tal como viste nos filmes,
Reproduz-te para o filme
Quem és tu? Senão um reflexo imaginado….
Passa a mão pelo cabelo!
Não, não, não passes agora
Olha pr’á câmara
Não, não olhes
Não é por medo, não olhes apenas
Vá, passa agora a mão no cabelo, pega na madeixa e solta-a da orelha…
hummm , quem és agora? Será que estás bem?
Gostava de trincar a sandes…
Não, se come à frente da câmara
Da última vez enchi muito a boca sem tão pouco reparar
Expira…
Inspira
Sorri…
Sai do silêncio
Pergunta coisas
Quantos minutos passaram?
humm, poucos.
Continua…tenta reconhecer-te no registo da figuração.
Ok, o que é que eu faço agora?
Sucederam-se diálogos e gestos
E continuei a fingir que era eu
Como que para agradar a Deus.
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