Que grandes férias foram as de amar
que nestas férias curtas onde a noite
cresce, nesta cama onde sequer
te vi dormir, mas te deitavas,
te penso lendo e vendo
a memória lenta levitar?
Abro um papel de nervos infestado
aliso o relevo - as tuas pernas
afago o pescoço imaginário
toco uns ombros de pedra
já relida.
E és criança.
Aqui estavam brinquedos e choros
escondidos, coisas de nada e doces.
Deixava no quarto o ardor do sexo,
as mãos sujas de tinta.
E eu aqui deitado
ouvindo a chuva.
A chuva em Sintra é bem uma pessoa
que tem assinatura aristocrata
deixa nos vidros numa escrita antiga
as cartas que escrevia de Lisboa.
E tu em Sintra
aqui dormindo.
.
.
.
Armando Silva Carvalho
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