O filho perguntou ao pai…
As árvores da cidade não se sentem sós? E o pai intrigado pôs os olhos dele nos do filho sem saber a resposta
…
O menino pensava na terra
A terra não é o espaço das plantas? Perguntava apontando para a cercadura de pedra pela qual tentavam romper as raízes mais rebeldes de uma daquelas árvores onde todos rasgam o nome com uma qualquer chave.
…
Então o pai pensou que as arvores viviam na mais cruel solidão.
Aquela para a qual correm os homens sem saber…e não, não é por viverem em casas de betão e andarem em ruas de asfalto…
O pai pensou no filho…pensou nas suas perguntas, nos seus conceitos naturais de cabecinha pequena, e na lógica neuronal de um menino de 6 anos que acabara de entrar para a escola da qual regressavam lado a lado.
Afinal as arvore estavam sós.
Para todos os efeitos estéreis, sem terra, sem nada que dar ás suas sementes que ao caírem rolavam para a estrada ou faleciam na pedra fria da calçada.
Quanta pena deveriam de sentir as mães que davam à luz os filhos num mar de rocha sem mais nada. …
Deambulando em pensamentos com o menino pela mão eis que: olha! Estás a ver?
Aquela árvore tem um filho! Que está ali ao pé dela
Só lhes falta darem as mãos… e o menino fixava os olhos no rebento enquanto os passos lhe empurravam o corpo em frente…
Afinal as arvores não estavam sós, nem sequer eram estéreis!
Então o pai descobriu que se perdia a forma mais sã do amor.
O pai percebeu o estatuto idílico dos “selvagens”
O amor estava ali…entendeu todos os dilemas dos românticos dos saudosistas, dos sensíveis e inteligentes nas suas eternas buscas pela definição do amor.
Entendeu a dificuldade da descoberta de uma coisa que se perdeu, da qual apenas resiste a palavra, o termo sem sentido, o conceito perdido.
O pai entendeu que o amor está em nós, de nós para nós com a prova no outro.
Cultivar em si mesmo o bem sem que o nunca possa ver em si mesmo porque ele, aquele que está na mãe só será visto por seus olhos no seu rebento, no seu menino pequenino, na sua educação, que fazendo de suas mãos um torno molda o menino à sua semelhança e percebe como é bela, e percebe como gostam dela.
O pai percebeu que o amor não existe de nós para os outros, essa ideia é apenas o caminho da descoberta, a afirmação da verdade, a prova.
Finalmente entendeu os olhos daquela árvore que via o seu filho crescer e percebia como era bela e o amava por isso.
Então, quase ao chegar a casa sentiu pena de deixar o seu menino tão lindo, mais e mais lindo a cada dia que passava, todo o dia longe de si. Sentiu pena de não poder ensinar-lhe o mundo que os seus olhos viam, pena de não se gastar com ele…de não se gastar consigo…
Sentiu pena de não se puder amar assim…
Há 4 meses
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